terça-feira, 11 de janeiro de 2011

A APPB, como apoiadora da cultura em geral, divulga a entrevista feiita pela escritora e jornalista izabelle valladares, no site da academia de artes de cabo Frio esa ARTPOP e parabeniza a academia pela iniciativa de divulgar um pouco da carreira de seus membros publicamente, cultura é esta corrente de amor a arte que vence as barreiras da distância.





Entrevista com a acadêmica, artista plástica,escritora e arte-terapeuta Silvana Borges


Nome: Silvana Borges





http://www.silvanaborges.blogspot.com/

Você é uma artista que busca várias vertentes, como surgiu esta pluralidade de dons em você? Foram intuitivos ou incentivados?
Acredito que ambos. O estudo sempre foi valorizado e incentivado pelos meus pais, eu sempre gostei muito de ler e desde que me conheço por gente adoro desenhar, eu fazia todas as ilustrações dos meus trabalhos escolares. Minha mãe em casa realiza vários trabalhos artesanais por lazer e eu fui convivendo com esse fazer criativo desde criança, certamente isso me influenciou muito. Sempre que gostava de algo, ia aprender a fazer, isso desde o cozinhar, o martelar, montar tudo o que eu pudesse imaginar! eu aprendi a  fazer minhas bonecas de pano, até enveredar para a pintura em tecido, vitrais, esmaltar cerâmica, porcelana, faiança, então comecei a pintura em madeira, até finalmente seguir para o óleo sobre tela que eu achava uma técnica digna apenas de mestres, e foi por causa da minha mãe que queria fazer aulas que fomos juntas freqüentar o atelier de pintura a óleo de Evanira Caruso. Eu penso que lidar com tantas coisas diferentes resultou nessa somatória expressiva no meu trabalho. Eu gosto de utilizar essa combinação de materiais nas minhas pinturas, essa parte sim é intuitiva, eu faço uso do que está a minha disposição e do que tenho como bagagem de aprendizado. Felizmente o conhecimento não é algo estanque, estou sempre procurando aprender mais, experimentando e me renovando.


Como foram seus primeiros passos no mundo literatura? Quais as primeiras produções literárias?
Essa foi a grande renovação em 2010. A literatura sempre me fascinou, se vou passear num shopping posso nem entrar numa loja, mas com certeza irei a uma livraria. Eu sempre escrevi coisas para mim, para organizar meus pensamentos e registrar minhas experiências, alguns amigos brincam que meus e-mails são verdadeiros tratados. Mas, eu não pensava em publicar algo meu até a minha participação como co-autora em Segredos de Cozinha vol. II com lançamento na Bienal do Livro em São Paulo, depois fui convidada a participar também de Nós, Mulheres vol.9, ambos pela Oficina do Livro. Agora estou na Antologia Infantil Histórias para Você Dormir com dois contos meus, o que foi uma grata surpresa pois comecei a criar contos num exercício de expressão na pós-graduação em Arteterapia em 2006 e ao receber o convite, lembrei que tinha um caderno deles guardados.

Como foi tornar-se uma acadêmica da ARTPOP? O que isso tem influenciado em sua carreira?





É uma grande honra! Eu acredito que Deus coloca as pessoas certas em nosso caminho. Em 2007 entrei para a Exposição Itinerante Água, conheci a artista plástica Beatriz Mignone que me convidou para expor no Centro Cultural de Macaé. Quando vim para a exposição passamos por Cabo Frio, nem me lembro o que íamos fazer, mas o que marcou foi que ela me levou para conhecer a artista Dyandreia Portugal, que me convidou para expor no Teatro de Cabo Frio e me indicou para fazer parte da ARTPOP. Nós três somos um caso de “amizade à primeira vista”. O papel importante que a academia desempenha certamente se resume no que Dyandréia sempre diz: “Juntos somos mais fortes!”. Acho que os artistas precisam somar sim, mas também precisam aprender a dividir experiências. Na arte como em tudo na vida, é preciso dar, para receber em troca. A ARTPOP tem pessoas brilhantes desempenhando o papel de disseminar arte e cultura em prol de um coletivo de pessoas que se reuniram com o mesmo propósito, acho válido, pois onde um membro está, toda família ARTPOP é representada, e isso é de um alcance fabuloso! Mas só é possível se cada um de nós der a sua participação e cooperar de alguma forma, pois a ARTPOP somos todos nós!

E a arquitetura? Como surgiu em sua vida?
Eu optei pela arquitetura porque acredito que unifica duas coisas em minha vida, construir e criar. Meu pai sempre trabalhou com construção civil, temos uma loja varejista de materiais para construção, eu cresci no meio do cimento, brincando de montar com conexões hidráulicas e fazendo desenhos nos talões de pedido. Estudar arquitetura foi o máximo, trabalhar com arquitetura é fascinante, eu acho que projetar é como construir algo numa tela em branco, confesso que hoje pinto mais do que projeto, porque não tenho paciência para lidar com as burocracias das repartições públicas, alvarás, etc. Em alguns municípios é um processo frustrante, isso para mim inibe a criatividade de qualquer um! 

Em Arteterapia, o que cada um dos diferentes recursos artísticos ajuda a trabalhar?
A Arteterapia é um agente facilitador em várias áreas tanto da educação como da saúde.  Os recursos expressivos são utilizados de forma a fazer aflorarem os conteúdos internos do indivíduo, permitindo que ele tenha uma consciência mais ampla de si mesmo, uma compreensão maior das suas relações com os outros e abre um leque de possibilidades do que ele pode realizar, integrando-o ao meio que vive de uma forma mais harmoniosa. Cada material tem algo a comunicar, o fazer artístico permite que esse diálogo aconteça abrindo um canal para que a pessoa se expresse de forma livre e espontânea. É um processo de busca de si mesmo e de descobertas. Não existem fórmulas ou regras gerais, cada pessoa é única e cada recurso é empregado dentro da sua necessidade, pode-se tanto trabalhar com pintura e desenho, como dança e dramatização. O importante é a expressão do individuo e somente ele pode lhe dar significado. A arte exprime estados da alma, estados de ser, de forma a se disponibilizarem para nossa consciência para que deles tomemos conhecimento.


No campo pedagógico, que problemas podem ser sanados por meio de  arteterapia ?
A Arteterapia não pretende uma cura, o processo arteterapêutico visa facilitar que o individuo possa lidar mais facilmente com seus limites e dificuldades, e superá-los. No campo pedagógico pode-se por exemplo trabalhar a auto-estima de uma criança com dificuldades de aprendizado. Quem de nós nunca disse um “eu não sei” ou “eu não sou capaz”? Então imagine o peso disso no universo infantil. A criança precisa ganhar a auto-confiança necessária para superar suas limitações e através da Arteterapia poderá concretizar e visualizar os seus potenciais. Isso não precisa ser trabalhado apenas com a arte, mas também com o contar histórias, os contos possibilitam que a criança assuma diferentes papéis, visualize e se familiarize às situações e se sinta capaz de enfrentar seus medos e obstáculos.

Sempre ouvimos falar em funções da consciência? Pensamento, intuição,sentimento, sensação. Explica para nós ,leigos qual a importância deste tema para a saúde emocional?
Os tipos psicológicos surgiram da constante necessidade de se compreender as diferenças no homem, o mesmo ser, mas com os aspectos diferenciados e singulares de cada indivíduo. As funções descrevem tipos de julgamento e percepção do mundo. Pensamento e sentimento são funções que envolvem um julgamento, uma avaliação. Sensação e intuição estão ligadas à maneira de perceber, são funções de adaptação ao mundo interno e externo. Todos temos as 4 funções, delas temos uma principal, duas auxiliares e 1 inferior, que é a nossa “pedra no sapato”, e é exatamente essa que precisamos trabalhar. Para o extrovertido a Arteterapia faz ele se voltar para si mesmo, para o introvertido, possibilita que ele extravase o que tem guardado dentro de si, promove-se assim a circulação de energia entre o eu e o consciente, tanto quanto entre o eu e o outro. Tendo conhecimento desses aspectos existe uma melhor aceitação do individuo como ele é, uma maior compreensão das suas reações, e um respeito e equilíbrio das relações entre pessoas diferentes e o modo de agir de cada um.


A contação de histórias, fazendo uma ponte com a literatura, é importante para o processo terapêutico. Por quê? Qual a função terapêutica?
De acordo com Jung, nos mitos e contos de fada temos a “anatomia comparada da psique”, temos a direção ou a base para nos relacionarmos, é uma dimensão paralela ao nosso mundo instintivo e biológico. Os mitos e contos de fada apontam caminhos para significações amplas de modo que encontremos explicações que dêem sentido às nossas relações. É como se cada um de nós desempenhasse um papel num conto, com isso você  identifica os padrões de sua história de vida, e tomando consciência do seu padrão pode mudá-lo se ele não estiver lhe favorecendo de modo que você possa reescrever a sua própria história. A nossa tendência é reproduzir padrões daquilo que assimilamos por herança, absorvemos do meio e do convívio com as pessoas, bem como de nossa história familiar. Trabalhar com histórias possibilita recriarmos a nossa história, podemos  assim trazer algo novo, novas aberturas, novos caminhos.

Muitas pessoas se sentem vítimas e amargam derrotas existenciais. A arteterapia pode contribuir de alguma forma?
A Arteterapia é um novo campo de conhecimento, não é um tratamento, mas um agente facilitador, aliás o termo arte+terapia não é o mais correto ao meu ver, pois leva a definição de uma terapia ou tratamento. A Arteterapia é uma ferramenta multidisciplinar muito poderosa sim, mas que só pode ser aplicada no auxilio ao tratamento de alguém com a supervisão de um profissional de saúde. Eu como arteterapeuta faço uso da Arteterapia no ateliê de forma preventiva, ou seja, estimulando a criatividade, promovendo a auto-estima e o auto-conhecimento do individuo, assim ele tendo uma maior consciência de si mesmo, conseqüentemente terá uma vida mais produtiva e mais saudável e não se sentirá derrotado, pois terá conhecimento de seus potenciais e visão das suas possibilidades de vida.
Nas aulas de pintura eu tento romper com a rigidez no aprendizado das técnicas, pois já me deparei com alunos tão obcecados pela técnica que sepultam a própria expressão para reproduzir fielmente este ou aquele mestre. A minha pesquisa na pós-gradução sobre as Musas Gregas teve como objetivo despertar a criatividade,  liberando o criar artístico do rigor estético, através da Arteterapia, onde cada um resgate a sua inspiração, ou que eu chamo de “musacidade”, aquilo que vem do coração, pois a pintura é uma maneira de mostrar aos outros como cada um vê o mundo e o que sente por ele. Arte é sentimento e a técnica deve ser um meio e não um fim sem si mesma.



A arteterapia possui atividades que possibilitem a criação de vínculos entre os adolescentes? Pode agir preventivamente no contexto pedagógico em relação às drogas?
Sim, há como estabelecer vínculos com atividades que façam o adolescente reconhecer o seu lugar e o seu papel nas relações, ele percebe que não está sozinho e nem é tão auto-suficiente quanto pensa. Não existe o eu e o outro separadamente, estamos interligados por uma linha, somos como pontos numa grande teia, fazendo parte de uma mesma realidade.
O adolescente quer expressar-se, e o material que escolher não é apenas suporte de projeção do que há no seu interior, existe um diálogo em que se troca e se relacionam informações com esse material, o adolescente trará para a atividade algo de si mesmo ao mesmo passo que receberá em troca.
É importante, para ele vivenciar esses aspectos de forma a utilizar a natureza, os contos, os mitos, como espelho daquilo que lhe falta, ou está submerso, aquilo que todos necessitamos integrar na nossa vida, de forma a harmonizá-la. Acredito que a educação e boa formação é a melhor prevenção em relação às drogas.



O idoso tem espaço em atendimento individual ou em grupo num contexto arteterapêutico?
Então, como eu já disse, um atendimento individual tem as características de um tratamento de saúde, então o arteterapeuta agiria em conjunto com outros profissionais em um caso mais específico. Em grupo, no entanto, o fazer artístico na Arteterapia ganha na troca de experiências, no compartilhar desejos, podemos realizar oficinas de criatividade, por exemplo, de forma a estimular os idosos a se sentirem produtivos e úteis, demonstrar que eles têm riquezas internas a serem exploradas e valorizadas. Melhorando a sua auto-estima e conseqüentemente trazendo uma melhor qualidade de vida, ele irá seguramente se apropriar do seu espaço nas relações em sociedade e não mais se sentir a margem da vida.


O que você pode dizer a quem está começando nas artes agora?
Tenha paciência, dedique-se e seja autêntico. Se você trabalhar seriamente e estiver fazendo aquilo que realmente deseja, o sucesso e o reconhecimento acontecem. Arte é mesmo aquilo de 90% transpiração e 10% inspiração!

Você tem algum apoio governamental?
Oficialmente não. Aliás não existe nada mais triste para um artista do que buscar apoio e escutar um: “não temos verba para cultura”, e por idealismo ter de custear tudo do próprio bolso ou a custo do, cada vez mais raro, patrocinador. Eu sempre tive apoio de instituições culturais e secretarias de diversos municípios que estão de portas abertas para dar apoio a propostas culturais sérias. Infelizmente existem muitas pessoas que não tem uma continuidade de trabalho, e simplesmente se aventuram nas artes, não tenho nada contra as pessoas que “pintam por lazer”, aliás eu acho ótimo que o façam, pois a criatividade é uma condição inerente ao ser humano. Mas eu acredito que o trabalho profissional deve ser deixado para os profissionais, os bons, pois devido também aos maus profissionais, o mercado anda com muito pouca credibilidade.


Qual a sua visão do artista brasileiro no mercado internacional?Acha que os intercâmbios entre brasileiros artistas que se apóiam são válidos?
Toda forma de troca é válida, nos faz crescer tanto profissional como individualmente. Eu apenas estou um pouco cansada de ver as mesmas fórmulas se repetirem à exaustão em alguns artistas, ou estar me deparando com a arte dita “moderna ou contemporânea” desde o século passado, não vejo inovação, não vejo estudo. O artista brasileiro tem prestígio, a brasilidade seduz, somos um povo criativo rico em expressão, é preciso se valorizar isso e parar com os modismos. Hoje com a globalização o mercado internacional está mais acessível, mas existe um caminho a percorrer e regras a seguir, o sucesso é conseqüência natural de um trabalho bem realizado.

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