domingo, 31 de outubro de 2010

Entrevista com Fábio Campos e Remi Bastos

Os poetas santanenses Fábio Campos e Remi Bastos
  
Escritora e pesquisadora Maria do Socorro Ricardo
entrevista Fábio Campos e Remi Bastos
publicado em 01/03/2010

Nesta entrevista, publicada entre outras, na página História do Sertão por Santana do Ipanema, dois poetas e duas gerações: Fábio Campos e Remi Bastos. Dois cronistas de cujas liras Santana do Ipanema é o palco e inspiração. Fábio Campos, nesta genealogia do sagrado, descreve o período natalino, de cujas memórias judaico-cristãs compõe este poema sacro. Aqui, reproduzidos alguns de seus versos (publicados na íntegra no portal maltanet). As experiências católicas do poeta construíram um poema cheio de imagens, de lugares, de personagens, de religiosidade, de religião, de religação entre terral e celestial.

(...)
O anjo outra vez socorre
Aparece de verdade
Alertando vai José
Desce para a Galiléia
Atravesse toda a Judéia
Se instale em Nazaré
Num estábulo Deus nascia
Num leito forrado em flores
Tendo como companhia
Os Reis Magos e os pastores.

(...) Do poeta Fábio Campos.

Outro poeta que canta e encanta Santana do Ipanema há meio século é Remi Bastos que, por e-mail, concedeu-me esta entrevista. Começou lembrando-se da Avenida Nossa Senhora de Fátima, do Tênis Clube, de Dona Lu, Dona Estellita, Maria Júlia e de seu grande amigo Newton. O tempo do poeta Remi Bastos é um tempo de esperanças e de sentimentos, o tempo deste Engenheiro Agrônomo residente na capital sergipana é o tempo da geografia do rio Ipanema de outrora e da vegetação sertaneja. (1) Quando você escreveu o primeiro texto e disse a si mesmo: “Esse merece ser publicado”? (Remi Bastos) – Minha amiga Maria do Socorro Ricardo, geralmente, tudo o que escrevo tem que passar pelo crivo de meus sentimentos. Se aquele momento não se converter em lágrimas não me dou por satisfeito. Refaço o que for possível até poder sentir que aquilo que acabei de criar está no ponto de ser publicado.

2. Há um livro que não poderá deixar de ser lido nunca, qual e por quê?

RB – O único livro que não poderá deixar de ser lido é a Bíblia Sagrada. Mesmo assim, eu estou em débito com Deus. Leio muito pouco.

3. Qual o papel do escritor em Santana do Ipanema?

RB – Escritora e pesquisadora Maria do Socorro Ricardo, conforme você sabe, Santana do Ipanema sempre foi celeiro de escritores, desde aqueles que, como eu, Remi Bastos, debruça-se nos sentimentos extraídos de uma experiência de vida própria vivida no Sertão, sem extrapolar uma escrita propriamente dita. E também os que vão adiante na divulgação de seus trabalhos, a exemplo de Djalma Carvalho, Lúcia Nobre, Clerisvaldo B. Chagas, você mesma etc. Então, eu vejo o papel do escritor santanense, com raras exceções, de burilar a escrita num vasto campo de inspiração; mas, sem contar ou receber o apoio ou incentivo das "pessoas".

4. Com quais palavras você definiria você?

RB – Eu sou uma pessoa simples, humilde, emotivo, saudosista, às vezes, tímido e, às vezes, participativo, que gosta de externar através da escrita tudo aquilo que me transporta ao presente, aos amigos de infância, à casa e à rua onde vivi minha adolescência, os vizinhos, o Panema. Enfim, eu sou Remi de Santana dos Meus Amores.

5. Alagoas sempre se orgulhou do seu nome no cenário literário mundial. Hoje se vislumbram novos talentos com a força dos antigos?

RB – É verdade. Jorge de Lima, Graciliano Ramos, Brenno Accioly e tantos outros compõem o expoente literário de Alagoas; no entanto, não posso conceituar, atualmente, novos valores; porém, acredito que novos talentos estão surgindo lentamente, e tudo dependerá de oportunidade.

6. Eu publiquei que Santana é Terra de Escritores. Quais sugestões você apontaria aos novos escritores santanenses?

RB – É como lhe disse anteriormente: o sucesso ou o desabrochar de novos valores no campo literário de nossa terra depende de incentivo. Nada adiantará escrever, apenas escrever e não ter a oportunidade de mostrar ao público a essência desse projeto. Se houvesse uma ação mais participativa dos nossos gestores, certamente que eu apostaria no talento de novos talentos, pela forma como são abordados os temas. São eles Fernando Campos, Fábio Campos, Lúcia Nobre, Luiz Antônio de Farias, entre outros.

7. É verdade que os alunos das escolas santanenses estudam a literatura dos escritores de Santana do Ipanema?

RB – Não tenho conhecimento.

8. Os livreiros, editores, bibliotecas e escolas do ensino básico veem o livro de quais maneiras?

RB – O que posso informar é que existe um movimento, por parte do Maltanet, com a colaboração de alguns muralistas santanenses. E de que está sendo levado livro de escritores santanenses, a exemplo do “Sonho de Alice", de Lúcia Nobre, e mais alguns escritores, às escolas municipais, numa forma de incentivo à leitura.

9. A cidade poderia recepcionar os visitantes com placas com nomes dos escritores e ruas e praças que os homenageassem?

RB - Esta seria uma sugestão importante e capaz para dignificar o nosso patrimônio literário.

10. Os poderes santanenseS Executivo e Legislativo têm compromisso com artistas locais?

RB – Não tenho conhecimento, embora acredite na disponibilidade dos mesmos se assim necessitar.

11. Há uma resistência histórica da mídia em publicar os textos dos poetas e escritores. Santana participa desta mesma resistência ou programas radiofônicos leem poesias, crônicas e contos de seus escritores durante a programação?

RB – Houve uma época em Santana em que se ouvia com mais constância, através de rádio local leituras de trechos poéticos escritos por santanenses. Atualmente, o maior divulgador é o portal maltanet (e os portais santanoxente, sertao24horas e blogueiros identificados) além de duas emissoras que sempre levam ao ar músicas de compositores santanenses, inclusive as minhas. Não acredito que exista em Santana do Ipanema resistência história que dificulte a divulgação de trabalhos literários locais. Tudo acontece lentamente. Para você ter uma ideia, Maria do Socorro Ricardo, a marchinha carnavalesca que compus em 1968, até hoje o santanense canta nos finais de eventos.

12. Como os escritores devem ser lembrados?

RB – Através de eventos, tais como: exposições literárias de suas obras, divulgação de seus trabalhos pela mídia local numa forma de conquistar e atrair novos talentos. Penso assim.

13. Uma academia de letras não existe apenas para os seus participantes; geralmente, as academias de letras são fundadas para divulgação da literatura, para fazerem os escritores chegarem nas mãos do povo. Quais são as preocupações políticas da agremiação literária da qual você faz parte?

RB – Não sei como se comportam atualmente as agremiações literárias em Santana. Mesmo porque, Socorro, eu vivo um pouco ausente. O que me chega ao conhecimento vem do Mural de Recados do Maltanet, nos blogs e no link Literatura.

14. Alguns escritores ficam em um único livro; outros passam a vida fazendo os seus livros. Como você avalia o fazer livros?

RB – O único exemplo que posso citar, e com muita tristeza, é sobre o escritor santanense Clerisvaldo B. Chagas, que estacionou os seus escritos tão ricos em realidade. Tudo por falta de apoio. Não sei bem se o termo seria correto; mas, Santana do Ipanema já poderia pensar em formar a sua academia de letras.

15. Quais os livros que você reler?

RB – Ultimamente tenho estado relapso comigo mesmo, talvez por conta das viagens que realizo no meu trabalho como engenheiro agrônomo, e que me deixa um tanto desmotivado à leitura.

16. Quais são os seus poetas de ocasião e os seus poetas de paixão?

RB – Não tenho poetas de ocasião e de paixão. Procuro sempre ler aquilo que me toca e comove. Gosto de ler as poesias de José Limeira, o Poeta do Absurdo, Patativa do Assaré, José da Luz etc. E, quanto a escritores, gosto de ler as obras de Graciliano Ramos.

17. O que é poesia em sua concepção poética?

RB – Poesia para mim é o retrato da alma. Ninguém consegue versejar se não estiver com a alma receptível.

(...) Adeus fazenda querida
Berço dos meus avós,
Hoje vivemos sós
Num oceano de saudade (...) Do poeta Remi Bastos. É também deste poeta o Hino de Santana do Ipanema. Onde, lembrada ou homenageada em meio ao hino, a “Canção do Exílio”, de Gonçalves Dias, talvez o poema do qual os poetas mais se aproximam com paródias, intertextualidades (versos interagindo com outros versos, poetas que interagem ou se alimentam de uma fonte original), desafios, desconstrução, reconstrução, identificação, porque se descortinou com “Canção do Exílio” uma saudade eterna à Pátria. Todo o Romantismo presente na obra do maranhense Gonçalves Dias refloresce em um romantismo contemporâneo dos poetas na história do tempo presente que se aproximam da “Canção do Exílio”.

Santana do Ipanema:
Torrão querido, pedacinho do meu Brasil;
És a Rainha do Sertão alagoano,
Desta pátria mãe gentil. (BIS)

Tua história enaltece nossa gente
Com bravura e amor-febril.
Padre Francisco Correia e Martinho Vieira Rego:
Pioneiros nesta terra varonil.

Tua bandeira simboliza nossas cores,
As tuas praças, esse rio, nossos amores;
O teu progresso eternamente a florescer.
Sou sertanejo, santanense até morrer! (BIS)

Minha terra tem palmeiras,
Nossos campos têm mais flores
Onde canta o sabiá.

Nosso céu tem mais estrelas
Onde nuvens passageiras
Dão espaço ao luar.

O teu passado de glória
Está vivo em nossa memória,
Teus filhos hão de aprender.

É mais forte o meu desejo de dizer
Sou sertanejo, santanense até morrer! (BIS)


Os poetas Fábio Campos e Remi Bastos (vide youtube) são duas extremidades de tempo atualmente ligadas nos versos publicados em Santana do Ipanema, alguns dos quais  postados no portal maltanet. A mesma Santana do Ipanema do poeta José Geraldo Wanderley Marques, Clerisvaldo B. Chagas, Marcello Ricardo Almeida (vide youtube). A lira entregue aos poetas santanenses se populariza nos versos de Remi Bastos, compositor do hino à cidade de “seus amores”, a poesia deste poeta tem um quê de eternidade.
Maria do Socorro Ricardo –www.historiografiaafricanas.blogspot.com

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